


Quando qualquer coletividade de artistas, ou mesmo, como neste caso da NAU, um artista individual que arrasta consigo sua rede de parcerias e trabalho, decide estabelecer-se e ancorar seu projeto poético longe dos grandes centros urbanos, ele estará inevitavelmente frente a um horizonte de questões sócioeconômicas relevantes que vão além de sua própria sobrevivência e de seu fazer artístico.
Questões que tocam em tópicos como estruturas e instituições de validação da arte, território e pertencimento, práticas colonizadoras e contra-colonizadoras, gentrificação e desenvolvimentismo, turismo predatório maquiado como “bons” produtos do consumismo neoliberal ostentando selos de “eco”, “new age”, “alternativo” etc.
A própria ideia de “interiorização da arte” que, ora mais ora menos, estará apoiada por políticas culturais, não raro se revelará muito mais como uma “capitalização da arte”, na medida que não confrontará baluartes do neoliberalismo e do “capital” e não desafiarão radicalmente o fluxo hegemônico que impõe que o desenvolvimento do artista e de sua arte - como da cultura em geral, da práticas econômicas, da civilização enfim – aponta sempre para a centralização nas capitais.
Essa é a história que podemos contar com as experiências e realizaçães da NAU Nascente de Artes e Utopia desde 2013. O que perdemos e o que ganhamos ao contrariar esse fluxo hegemônico “civilizatório”. A pressão dentro das próprias instituições culturais para nos enquadrarmos em categorias, elas mesmas facilmente colonizadoras, como “arte popular” e seus derivados. Os desafios de constituir nossas redes de trabalho e socioafetivas em torno de um tal “projeto rural”. Os aprendizados na busca de fazer arte “com” a comunidade em vez de “para” a comunidade, isto é, uma poética do Encontro que, ao mesmo tempo, nos ensine sobre nossos próprios vícios colonizadores. Questionamentos sobre a especialização da arte e a sua consequente mercantilização, em contraste com um contexto sócio-poético de Artevida.